quinta-feira, 29 de abril de 2010

BRINQUEDO DE DEUS


Deus estava ali chateado, sem nada para fazer. Nem chuva, nem sol. Ele ainda não tinha brincado de massinha e feito estas coisas que é o mundo. O universo.
Por isso a primeira coisa criada foi a massinha de modelar. É um material plástico com o qual se pode fazer o que quiser.
Deus tinha o tempo do Infinito, fez animais em todas as formas de sua incomensurável imaginação. Achou que o brinquedo poderia ficar melhor e misturou os animais, saíram meio esquisitos e ele se divertiu muito. Ornitorrincos, cangurus, pescoçudas girafas e todos os outros. Mergulhou alguns no mar e outros jogou no céu. Alguns ele esqueceu na terra por que aparecia outra idéia mais legal e já queria vê-la materializada.
Fez um boneco, não era de barro, isso é informação que chegou distorcida. Era de massinha que não quebra fácil e dá para movimentar. Como estava cansado e já tinha modelado o dia e a noite, suspirou. Um sopro de seu suspiro bateu no boneco e o milagre aconteceu: virou homem.
Esta criação recebeu junto a vontade de bisbilhotar, afinal era a essência de Deus que passava bisbilhotando possibilidades. Como a criação nunca é igual ao criador, algumas vezes sai bem piorzinha. O boneco que levou o nome de homem começou a querer saber coisas e mais coisas. Deus se encheu e mandou o cara dormir. Homem sentiu frio, afinal as roupas ainda não tinham sido criadas.
Deus é um cara legal, deixou umas besteiras para o homem inventar.
Porém, nessa situação, Deus tinha que dar um jeito. Pegou outra porção de massa e não a arrancou do homem, não, veja-se como no final a essência ficou diferente. Criou outro boneco, mas o artista era cioso de sua capacidade de diversificação e fez algumas partes distintas. Pensou também que no frio seria bom se os bonecos se encaixassem, por isso caprichou na boneca, afinal o homem já estava pronto. O encaixe teria que ser nela.
Chamou a boneca de mulher.
Homem e mulher levantavam quando o sol nascia, ficavam vasculhando o que Deus chamou de paraíso. Como não tinham mais nada o que fazer e eram seguidores de Deus, se puseram a criar.
Deus até que achou legal. Ficou satisfeito com sua obra. Foram os seres que mais lhe chamaram a atenção. Como resolviam facilmente os entraves que apareciam, resolveu criar alguns probleminhas porque modelar já tinha esgotado e ele queria um brinquedo mais movimentando.
Fez muitos, muitos bonecos, aprimorou-os de forma que eles mesmos pudessem criar outros semelhantes a si próprios. Como já tinha dia e noite, podia largar umas bolotas no espaço que sobrava e criou mundos para que os homens e as mulheres tivessem um lugar para viver que ficasse um pouco longe Dele. Sabemos que Ele cometera pequenos deslizes, foi distraído na criação. Homens roncam.
Outros acréscimos também foram feitos. Deus gostava de “pegadinhas”, inventou a tal da psique, emoções e sentimentos, ou seja, embaralhou o meio de campo e marcar gol ficou bem mais complicado. Mas jogo bom é aquele em que se tem que torcer, senão fica monótono e gritar gooooolll na hora do acerto é o acerto.
Quando os homens criaram tudo que era absolutamente necessário para sua sobrevivência, que foi outra mania que Deus colocou dentro deles, começaram a questionar. Era o mais divertido para Deus por que as repostas eram as mais estapafúrdias possíveis e nunca resolviam tudo integralmente.
Agora, pelo menos, nós sabemos que foi assim que tudo começou: um brinquedo de Deus entediado com o Nada que não existia, uma vez que o Nada é o vazio de todas as coisa.
Deus é mesmo um cara com alta tendência à comédia, mas dizem os entendidos que ele nunca mais se entediou.



Vana Comissoli

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