segunda-feira, 30 de maio de 2011

SE SOUBESSES

Quanto amor tenho guardado
num cofre chaveado
palavras doces
quentes gestos
esperando...
já meio desarrumados
um pouco mofados
antigos
silenciados.

Se soubesses como espero
vê-los ao sol
ressuscitados
brilhar no escuro da cama
chamar em gemidos teu nome
trocar beijos
ofertar abraços
do esperar já cansados

Se soubesses que longas horas
intermináveis minutos
pousam sobre o telefone calado

Se pudesses ver
meu olhar perdido
de esperança adormecido
Se pudesses sentir minhas mãos vazias
meu peito esfomeado
meu ventre manietado

Talvez soubesses
quanto tempo tardasses.
Vana Comissoli

domingo, 29 de maio de 2011

SORTE GRANDE

Uma em um milhão!
Sabe aquilo que tem tudo pra dar errado, aquele premio que voce nunca vai ganhar, aquela oportunidade que não vai aparecer, a viagem que voce nao vai realizar, o cara certo que você não vai conhecer?
Pois é, todo mundo tem uma chance de ser exatamente o oposto disso tudo que descrevi. E outras coisinhas mais que ninguém acredita que possa acontecer com sua vida.
De repente você pra ajudar o ceguinho compra o bilhete premiado da loteria.
De repente você esta na hora certa e lugar certo.
De repente a sua frase foi a mais criativa no concurso da Maggi e vc ate o fim do mes estará embarcando para Bora-Bora. (E ainda ganha um ano de supermercado pago!) De repente o cara da sua vida eh exatamente o piloto que vai te levar ate a magnífica Polinésia Francesa. (Ah!¬ além do homem certo você ganha um fetiche ambulante, afinal nada como um piloto).
A probabilidade de tudo se encaixar e pequena, mas pode acontecer.
Necessita um mínimo esforço da parte interessada e um punhado de sorte!
Tá, um caminhão de sorte!
Mas o que acontece na real?! Você não vai aquele evento porque esta cansada, você não compra o bilhete porque não tinha trocado, não manda três códigos de barras com sua frase porque acha que todo concurso é marmelada... Nem preciso falar do piloto, afinal você nem embarcou.

Juliana Comissoli

RESVALANDO NAS PONTES




Saiu do buraco de cobras pintassilgando a terra de vermelho. Um vermelho velho e escuro igual aos buracos da saudade que marcavam seus braços gangrenados. Já gritara tanto por socorro que agora demorava a fazer eco dentro do coração que nem gemeu quando viu a luz do lá fora. Era pardacenta e tênue, mais uma teia de aranha que rompe fácil na ponta dos dedos, qualquer ai desfaria tudo e novo buraco com as cobras lúgubres de estranhos e sarcásticos risos se abriria à sua frente. Não haveria ponte que pudesse atravessar. Bastava cair e uma garganta famélica o engoliria sem opção de vomitar, quando muito o regurgitaria para voltar a mastigar no furor da fome insaciável.
Andava na ponta dos pés dos sentimentos atrevidos e permanentes, a ingenuidade ou esperteza demais, o faziam não calar os arroubos, mais e mais, assim permanecia vivo. Fingia aqui e ali que era normal apesar de acordar quando a tarde ia a meio. Fazia de conta que trabalhava enquanto emails desesperados eram enviados de todas as partes do mundo circular onde andava pedindo dinheiro que acabara anteontem. Urgência de tudo e incompreensão de todos. Como alguém poderia entender a alma que buscava amplos campos chafurdando em atoleiros pegajosos, infinitamente cinzentos? De vez em quando uma luz, fogo fátuo a morrer logo ali.
Julgava que caminhava andando em círculos concêntricos cada vez mais apertados, como anda o cachorro atrás do rabo, parte deliciosa de si mesmo. As agulhas poderosas poderiam tirá-lo deste andar cuidadoso onde o medo acompanhava a gargalhada que deveria ser baixa e controlada para pensarem que ria de uma piada vulgar e não da notória falsidade que trazia no bolso. “Você acreditou no que eu disse? É bom, nunca se deve acreditar num homem que não mente”. E ia assim mentindo de grão em grão para encher o próprio papo, o olhar crente do outro a fazê-lo acreditar que era de verdade e não feito de confete e batom que manchavam a camisa e outros escorriam mofados na chuva ácida de suas lágrimas que pensava não existirem mais.
Estava na paz. O fio da navalha de seus sapatos não o incomodava tanto e enchia a boca de comprimidos que engasgavam, mas desciam arranhando a garganta, manietando os buracos cheios de agulhas espetando seu sangue. A crueza era assim mesmo, podia jurar que se sentia bem e lentamente os furos nos braços só deixavam manchas escuras que se pode esconder. Marca indelével do passado que não passa nunca.
Fazia grandes programações onde até caminhadas matinais existiam, sabendo que não existiriam nunca. As saídas noturnas estavam dentro do baú que não abriria. Aqui fora era atravancado e estrategicamente contornado, indo pelos canteiros de flores em vez de caminhar entre o mato que se acumulava nas bordas. Lá dentro acoitavam os insetos gigantes com cabeças humanas espreitando nas esquinas para levá-lo prisioneiro eterno dos buracos fatais.
Ia cobrejando a esmo sem definir o caminho, se mimetizando conforme o interlocutor. Alguns tinham cores surpreendentemente belas e outros, apesar do ouro fosco e por isso mesmo, o encantavam ainda mais. Estava sempre há alguns centímetros do abismo onde os sentimentos seduziam e perdia-se neles num contato atroado, os momentos sem eles se tornavam vazios e descoloridos. Ficava um sapo sem príncipe dentro, coaxar não era seu forte e arrancou o piercing da língua para ver se aprendia, um frio na espinha correu e puxou num safanão para enxergar o sangue que o seduzia ao infinito. Imediatamente viu seus parceiros de cama com os braços lacerados pelas lâminas que produziam os riscos vermelhos que levavam a gritos de orgasmo inigualável.
Cada um é o que é, pensava em momentos de lucidez, se aceitando tal qual era: Um estorvo permanente a si mesmo e não tinha coragem de matar. Deste jeito fugia das noites de becos e ruelas, de festas selvagens cheias de suores e fantasias seminuas por onde andara, lhe dando cada vez mais a sensação que não estava em lugar algum.
Em torno os olhares eram de alívio, embora sempre atentos aos seus gestos como se escravo fosse da vontade dos demais. Era uma estupidez satisfazer aos outros, mas tinham lhe dito que seria o paraíso viver em paz das alfinetadas da mente. Pelo menos para provar que estavam todos errados, se impôs experimentar este novo tipo de tortura, tão acostumado a elas que não deveria ser muito diferente e uma pela outra quem sabe pudesse dormir.
Foi quando o menino desprevenido e puro apareceu vestido de comum lugar virtual. Vinha com aquele sorriso que só se encontra nas crianças bem nascidas de saúde mental, acarinhadas por outra coisa que não a febre que seu pai lhe ofertou numa noite de loucura branca em forma de pó enfileirado.
Poderia se apaixonar por esta visão. Se esforçou bastante, conseguindo afinal encher todos os minutos com ela até que a ansiedade voltou a entupir suas veias de adrenalinemia, deixando-o de sorriso espetado com olhos de segundeiro de relógio.
O menino estava tão distante! Precisava superar várias dificuldades para enraizar este encontro útil e derradeiro em sua vida até então mesquinha, mas daqui para frente gloriosa. Era o que seus instintos metafísicos diziam em cochichados altos brados. O desgraçado do mundo muito caro de atravessar, alguma coisa milagrosa precisava acontecer e o tarô lhe dizia que sim, afinal o definitivo tinha chegado.
Tornou-se urgente e suplicativo aos ouvidos possíveis de levá-lo para tão longe num passe de mágica de cartão de crédito. A interdição imposta por seus atos enlouquecidos o tinha deixado incomensuravelmente longe de qualquer bandeira endinheirada de caixa eletrônico. Foi assim que os dias retornaram ao inferno do “me dá e quero”, derrubando até a muralha da China. Como esta muralha era feita de vime frouxo de mãe quase tão quanto, pronta para ser derrubada por lobo vagabundo. Logo conseguiu seu intento, mas o miserável cartão estava num fundo sem fundo algum e nova peleja se impôs sem solução a menos que...
Remorso e olhar o passado não são coisas que toque a vida para frente, quem quer se estraçalhar faz isso de qualquer maneira, com a ajuda dele ou sem. Tinha sido assim com ele por que outros também não poderiam enfrentar a onça com vara curtíssima? Se há dor, isso não significava nada diante do arsenal bélico do aprendizado. Era por uma causa acima de todas as causas, conforme uma estrela cadente lhe tinha falado sobre este amor que redimia, afinal ali, a um vôo. Precisava alguém ou alguma coisa ser sacrificada, como os sacrifícios eram oferecidos ao deus furioso que aplacava as ondas enormes e engolidoras em priscas eras. O que não acontece se faz acontecer. “Vamos embora que esperar não é saber”.
No dia seguinte estavam na frente do dragão que cuspia fogo lacerante pelas mãos, poros, boca e principalmente pelas intenções reais e executadas. No peito havia um medo, mas um medo banal de pessoas vividas para dentro, com suas próprias agulhadas na iminência de agulhar outra pessoa pelo nariz ou pelas veias, tanto faz.
O Senhor dominante da área cocainômana fazia de conta que era íntimo, isso dá uma segurança bastarda muito elegante e tão falsa quanto um brilhante na bijuteria da atriz. Logo os acertos estavam feitos sem perceber que o buraco desta vez não tinha cobras vulgares, eram todas najas e víboras da melhor espécie, daquele tipo que espreitam antes do bote arguto e envenenador para todo o sempre.
Quem poderá desconfiar de uma camaradagem entre mãe e filho voejando de uma cidade para outra, indo se refrescar no Mediterrâneo como prêmio de férias por amor indissolúvel que vem do ventre e alimenta até a morte? Na bagagem há de ter alguns pertences uma vez que sem roupas íntimas ninguém pode viajar. No meio delas, pacotes muito bem embalados, tão bem que nem um odor vicioso e fugaz haveria de escapar. Não é possível que os cachorros sejam tão cretinos que vão se deixar engambelar por esta quirera, tendo a bolsa uma lingüiça de primeira qualidade, daquelas que, a quilômetros, qualquer cão deseja ardentemente.
Estes Cérberos do inferno!
Logo homens muito grandes, parece até que suas cabeças batem no teto, ou cresceram de repente diante dos olhos atônitos. Também muito fortes, ou fortificados por insígnias federais imensas e duras algemando a consciência dos pulsos.
Grades não são coisas boas de nos defenderem dos buracos e atrás delas se chora um choro longínquo de quem este buraco faltava conhecer.

domingo, 22 de maio de 2011

HISTÓRIA SEM FADAS

Eram 6 horas da tarde quando Amarelo acordou. Tivera uma boa noite invertida, era assim desde que começaram a reforma da Praça da República no centro do centro de São Paulo. Os homi não incomodavam mais e o barulho diurno das máquinas e do trânsito era cantiga de ninar para seus ouvidos zoados. Tinha que descolar algum para comer, a larica estava das pesadas, estava na urgência, sem tempo de encontrar uma velhinha distraída da bolsa para fazer uma parceria imposta de grana. O mais legal seria ir direto para a pequena rua que serpenteava em torno do Copam, aquele prédio batuta que aparece todas as manhãs nas notícias de trânsito encrencado. Sabia das coisas porque sempre parava diante da vitrine 24 horas de TV quando ia dormir. Bem certinho como quem bate ponto depois de descer na estação República do metrô apinhado de gente. São Paulo é assim, quando uns dormem, outros acordam. Não sossega esta cidade?
A turma do comércio diurno estava saindo da labuta, os do turno da noite prontos para entrar em ação. Logo encontrou o Zé do Pinho encapuzado como ela, a cabeça enfiada até os olhos no moletom que um dia foi preto e agora era meio “onde está a cor”. Chapéu não era uma vagabunda qualquer, dava duro, antes de fumar a primeira pedra vendia umas quatro ou cinco, era o trato a cada R$25,00 ganhava uma. Tinha que se puxar, a concorrência era braba. Bem que poderia trabalhar no dia era mais calmo, mas sabe como é, uns são do dia e outros são da noite. O Professor que sabia das coisas tinha ensinado isso e entendia da tal Psicologia. Quem vai duvidar, ele viera da Vieira Couto, tinha casa e tudo, um estudado.
Chapéu não sabia o que estava escrito nas estrela para ela, ora quem vai ler estrelas? Só os babacas que ficam caídos de boca prá cima olhando o céu. Esses eram da pesada mesmo e até espumavam pela boca. Ela não, era sabida e não atolava demais na pedra. Tinha que ter olho vivo para ver se os homi não tinham decidido dar uma de moral para repórter que gosta de ver o nome no jornal nacional. De vez em quando acontecia, ela até já tinha sido atriz, se reconheceu pelo capuz amarelo, ainda bem que a cara não apareceu, era de menor e não gostava da FEBEM. Os camaradas tinham contado que lá era foda, se apanhava igual cachorro sarnento.
Pois é... Sem saber ler estrelas e muito menos o que estava escrito no Tarô que nunca tinha ouvido falar, ela não imaginava que este dia era marcado pelo diabo. Este conhecia bastante bem, digamos que fosse seu amigo íntimo. Pelo menos já se deitaram juntos umas 30 vezes, era dono do pedaço o Diabo Mico, foi com ele que perdeu os tampos aos 13 anos. Isso é apenas detalhe, tampo é para ser perdido mesmo. Refri a gente não tem que abrir para tomar o gostoso? Burrice esperar, a vida é curta. Nesta zona ela é bem curta, ou se morre embaixo de carro vendo preto Audi onde é apenas Fiat velho, ou se morre de tiro perdido por polícia zoado, ou se morre de morte morrida de tanto crack na cabeça. Já estava uma velha de 16 anos, daqui a pouco começava a contar ao contrário e a vida ia encurtando, mais fácil assim e a gente ia pensando que vivia bem mais.
Depois de pegar a trempa procurou a clientela segura, os de fé que eram fáceis e sempre tinham dinheiro, o cara do mercadinho, a guria do sebo e outros deste naipe burguês. Não sabia o que era burguês, mas diziam que eram os bacanas que davam um jeito de ficar no invisível e por a turma na cadeia de vez em quando assim limpavam a própria barra. Isso era chato porque para sair na boa tinha que dar para os guardas e eles reclamavam do cheiro. Ora, estavam pensando que banho era fácil? Tinha que ir ao albergue, coisa filha da puta de chata, eles ficavam na fiscalização para ver se não tinha pedra escondida e quem pode dormir direito de cara limpa deste jeito? Só otário.
O Lobo vinha se balançando todo com aquele ar de Bredi Piti. Adorava o Bredi, tinha visto um filme inteiro onde o cara aparecia peladão o que lhe valeu belas e boas horas de suruba com os três moleques mais legais do pedaço. Dava até para agüentar rodada esticada, mas a pedra rolou solta e desabou. No dia seguinte procurou os malandros, eles estavam em outra e não deu para repetir a dose. Melhor, esse negócio de sexo tinha perdido a graça, a pedra fica com tudo, até a com coceira no meio das pernas.
Pois é, lá vinha o Lobo e ela se ouriçou toda, diziam que o cara era mau e ela estava louca para ver a maldade. Ouvira que ele comia pesado e às vezes até queria comer a avó da gente. Não dava para arriscar porque nem sabia onde andava a velha, nunca tinha visto as fuças dela.
Resolveu parar na lanchonete e choramingar um sanduba, o português quando estava de bom humor e tinha comido bem a mulher de noite, dava um bom demais, com mortadela e tudo. Até passava manteiga. Era um desses dias e se fartou, a sorte é que o estômago não agüentava muito e era uma pena perder iguaria jogando revolta no chão da rua. Ficou ali no hora veja até sentir que a mortadela caía bem e a disposição ficava punck, legal para enfrentar o lobo.
A floresta de concreto estava naquela movimentação, era bicho de todo lado, alguns veados balouçantes, várias hienas, muitas onça tigradas saindo da Boca do Lixo e toneladas de cachorros amestrados. Flores de plástico, coloridas e aveludadas, recheadas de pó se apertavam na mesa do camelô, sempre desejara uma daquelas rosas fosforescentes, ia ficar bem legal enfeitar o chapéu amarelo, a grana nunca chegava nela. Um dia... Quem sabe?
Nem percebera que o relógio batia nas 7 da manhã, seu “dia” passara voando, nem queimara tanta pedra e estava legal.
Atravessou a São João no acostumado da corrida, o Lobo resolvera se movimentar e já descia a avenida. Será que daria um giro pela Vinte e Cinco? Fazer o que? Lá tinha guarda de todo lado, de olho nos rapa para avisar os camelôs sem licença. Os pobres diabos ganhavam uma merreca como polícia e eram obrigados a um trabalhinho extra. Morria de medo, ao mesmo tempo os revólveres presos à cintura a excitavam, devia dar um barato transar com o cano deles, até arrepiou só de pensar.
Se chegou no Lobo como quem não quer nada, perguntou o endereço de uma rua qualquer, ele era entendido da floresta. Foi um cá lá e se amigaram bem legal, o cara estava na falta e topou dar um trato nela, até prá cama de verdade levou a mina.
Chapéu entrou meio desconfiada no quarto, esse negócio de 4 paredes era meio chato porque não tinha para onde fugir se pintasse sujeira, mas o Lobo... Valia a pena o risco. Tomou banho, dizem que perfumosa é mais chamativo e vá que o cara fosse do tipo tarado e enfiasse o nariz lá dentro. Uma tara é bom, os caras da crokô eram bate e volta e não se pode exigir na hora de ganhar uma pedra pelo serviço. Pensando nisso esfregou o sabão com vontade na pechereca que reluziu.
Foi toda se fazendo para a cama onde o Lobo já estava a postos e viu que estava completamente a postos, se assustou um pouco, nunca tinha visto uma disposição daquele tamanho. Tudo bem, a gente tá na roda e tem que deixar rolar.
O cara começou manso, até desanuviou a cabeça e a fumaça foi embora. Ficou bom demais embora batesse doído, tá na chuva é prá se molhar, pensou quando deu o primeiro grito.O Lobo riu alto e disse um monte de palavrão que nem se lembra quais foram, só ficou o “tu ainda não viu nada”. Era nordestino, o desgraçado. Tinha vindo atrás de trabalho e pegou pesado na construção ficando com uns braços que eram umas toras, ou tomava bola, vá lá saber. Virar ela de costas era um assopro e foi assim que Chapéu começou a aprender a ler estrelas. Já tinha feito este negócio de vira-vira, mas não com alguém tão apessoado e sem planejamento.
As tripas se revoltaram porque o Lobo dançava forró em seu corpo quase desfalecido. Ouvia os gritos de “caga, caga” e o riso subindo cada vez mais alto, “quero gozar, vamo lá vagabunda, “não te faz”. Antes de se arriar toda lembrou que tinha estado ali há muito tempo e que o porteiro era o Caçador Verde, não vacilou, berrou por ele. Na lembrança, a voz de Margarida retiniu: O Caçador é de fé, salva a gente se a gente gritar por socorrimento.
A porta abriu num baque se estonteando no chão e nem deu tempo de ver direito o cassetete improvisado abrir a cabeça do homem que brochou na hora com um mundéu de sangue esguichando nas costas dela.
Estrebuchada na cama do Clínicas contava a história toda para o polícia, nem quis saber se o Lobo estava morto ou estrabuchado, balbuciava entremeando cada frase com a lembrança desconexa:
- Moço, salva a minha avozinha que esta ela não aguenta.